quarta-feira, 26 de março de 2008

CLIMA EM TRANSE


No Brasil não existe furacão!
Autor: Prof. Edson Osni Ramos
É isso que ouvimos desde pequenos, porém o que ocorreu em nosso Estado de Santa Catarina, em 26 e 28 de março de 2004, foi a passagem de um furacão.
Esse fenômeno meteorológico, que se formou no sul do oceano Atlântico, ganhou o nome de “Furacão Catarina” (observe a figura ao lado, com foto - Nasa - 26/03/2004 - onde foram assinalados os Estados do sul do Brasil).
Mas, será que algo assim poderá ocorrer outras vezes?
É o que vamos ter que descobrir, só que antes precisamos entender o que houve em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul na ocasião.
De abril a junho, é comum acontecerem ciclones extra-tropicais, que são tempestades com ventos que chegam a alcançar pouco mais de 100 quilômetros por hora e que são responsáveis por ressacas no sul e no sudeste do nosso país.
O furacão Catarina era um desses fenômenos. Porém, no dia 26 de março de 2004, por alguma razão que ainda não foi explicada, o fenômeno ganhou intensidade no mar e veio em direção ao continente com ventos acima dos 150 quilômetros por hora, o que o qualifica como o primeiro furacão a atingir o Brasil. Até então, um fenômeno meteorológico desse tipo nunca tinha sido registrado no Atlântico Sul.
Os pesquisadores estão considerando duas possibilidades: ou isso é um evento raro que só ocorre pouquíssimas vezes ou já é o primeiro sinal das mudanças climáticas que o planeta estaria sofrendo em função da poluição produzida pelo homem.
Só saberemos qual das alternativas é a correta quando mais observações forem feitas. O furacão pegou todo mundo de surpresa, até o mundo científico!
Para alguns cientistas brasileiros, o que houve não foi um furacão, mas um ciclone extra-tropical de maior intensidade. Só que os centros de estudos de furacões do Canadá, dos Estados Unidos e do Reino Unido, que são muito bem equipados e contam com cientistas especializados, qualificaram o fenômeno como furacão. A polêmica surgiu porque um furacão nunca tinha passado pelo Brasil.
Acreditava-se que não havia furacões no Brasil porque, como os ventos sobre o oceano Atlântico são muito fortes, as nuvens, ao se formarem, logo se espalhavam e, assim, as tempestades nunca se transformavam em furacões.
Mas será que isso quer dizer, então, que agora podem aparecer outros?
Na verdade, essa pergunta ainda não tem resposta. Como nunca tinha aparecido um, ainda está muito cedo para fazer esse tipo de previsão.




Mas, o que são os furacões?

Furacões são gigantescas tempestades de ventos, que podem ter até 2.000 km de diâmetro (o furacão Catarina tinha 80 km de diâmetro). Em média, são registrados 100 furacões por ano, porém, a maioria é em alto-mar. São ciclones que, normalmente, ocorrem é áreas tropicais (temperatura da água em torno de 28 ºC). Começam com pequenas tempestades sobre essas águas quentes. Formam-se, então, duas correntes de ar: uma quente e úmida, que se eleva, e outra fria, que é puxada para baixo. A tempestade gira e avança, puxando mais ar úmido do oceano e ganhando mais força. O olho do furacão, espaço de ar seco, sem nuvens, é rodeado por nuvens (cúmulus-ninbus de, até, 15 km de altura).
Os ventos do furacão atingem de 118 km/h até mais de 300 km/h. Os ventos do furacão Catarina atingiram a costa com velocidade em torno de 150 km/h.
Os furacões são tempestades bastante grandes, provocando muitos estragos nas grandes áreas por eles atingidas.

Aqui em nosso Estado de Santa Catarina, de tempos em tempos verificamos a ocorrência de outro fenômeno meteorológico preocupante por ser extremamente perigoso: os tornados.

Os tornados são considerados as mais destrutivas das tempestades na escala de classificação dos fenômenos atmosféricos. Podem acontecer em qualquer parte do planeta, mas são mais comuns nos Estados Unidos da América.
São tempestades de vento e chuva que começam com uma ventania no interior das nuvens. Massas de ar quente e úmido sobem e encontram massas de ar quente e frio que descem. O ar quente passa a girar cada vez mais rápido, formando uma espécie de funil. A massa de ar se projeta para baixo, em direção ao solo, atingindo ventos de até 500 km/h, varrendo tudo o que há pela frente.
Os tornados não duram mais de trinta minutos e a região por eles atingida é muitíssimo menor do que a atingida pelos efeitos de um furacão, porém, nos locais onde passa a destruição pode ser muito maior.
A região sul de Santa Catarina é o local no Brasil com maior registro de ocorrência de tornados, embora, sempre, com pequena intensidade, mas que mesmo assim possuem um grande poder de destruição.
E no dia 2 de março passado, os moradores e banhistas das praias de Palmas, em Governador Celso Ramos, e Jurerê e Canasvieiras, na Ilha de Santa Catarina, levaram um grande susto quando da formação de uma tromba d’água, que se deslocou aproximando-se da Ilha do Arvoredo.
A tromba d’água é um fenômeno com as mesmas características do tornado, porém leva esse nome ao se formar sobre a superfície da água (o tornado é sobre a terra). Nesse caso, uma massa de água sobe até as nuvens, formando uma coluda d’água que lembra a tromba de um elefante. Vem daí o nome: tromba d’água.
É um fenômeno extemamente belo e, ao mesmo tempo, aterrador.
texto: Edson O. Ramos - Cebola
fotos: recebidas por e-mails - sem a indicação do autor

sexta-feira, 7 de março de 2008

3 ANOS SEM CESAR LATTES

No dia 8 de março completaram-se 3 anos da morte, aos 80 anos, em Campinas, São Paulo, do maior físico latino-americano de todos os tempos, o brasileiro César Lates, vitimado por uma parada cardíaca.
Cesare Mansueto Giulio Lattes nasceu em Curitiba, Paraná, em 11 de julho de 1924, era casado com Martha Siqueira Neto Lattes, pai de quatro filhas e avô de nove netos. Sua descoberta mais importante, realizada aos 22 anos, abriu caminho para a nova física de partículas, mostrando que há muito mais coisas nas entranhas do átomo do que prótons, elétrons e nêutrons.
Iniciou o curso primário em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, e concluiu o secundário no Colégio Dante Alighieri, em São Paulo. Aos 16 anos, pelas mãos do pai, encontrou-se com o físico ucraniano (naturalizado italiano) Gleb Wataghin, introdutor da física moderna no Brasil que o aconselhou a aproveitar uma portaria governamental, pular os anos que faltavam e ingressar imediatamente na então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP). Com 19 anos começou a dar aulas como professor-assistente da USP. "Nunca mais fiz curso algum. Daí para frente, o que eu aprendi, aprendi fazendo", orgulhava-se.

Destacou-se tanto na universidade que, ainda aluno, Wataghin e o italiano Giuseppe Occhialini o convidaram a participar de pesquisas teóricas e experimentais.
Em seguida, sob a orientação do grande físico brasileiro Mário Schenberg, dedicou-se a criar um modelo teórico do elétron, supondo uma partícula puntiforme dotada de momento angular. “Depois que consegui acabar, nunca mais me dediquei à física teórica. Decidi virar experimentador", dizia aos seus biógrafos.
Em 1946, apenas três anos depois de formado, partiu para a Inglaterra, para trabalhar com o físico inglês Cecil Frank Powell. Foi participar de um trabalho sobre traços produzidos por partículas subatômicas em certas chapas especiais, espessas e sensíveis, chamadas emulsões fotográficas. Pela análise dos rastros deixados por essas partículas, era possível determinar sua massa, energia e outras propriedades físicas. O trabalho se arrastava há 10 anos, sem resultados importantes. A entrada de Lattes e do italiano Occhialini fortaleceu a pesquisa. Occhialini tratou de conseguir emulsões mais densas, capazes de registrar maior número de eventos. Lattes foi encarregado de calibrar as novas emulsões e descobriu que, quando carregadas com um composto de boro, o bórax, eram capazes de reter o traço das partículas por muito mais tempo.
O jovem cientista brasileiro não se conformava com as baixas energias das partículas então produzidas em laboratório e esperava utilizar as chapas para detectar as partículas muito mais energéticas, presentes nos raios cósmicos que permanentemente chegam à Terra, vindos do espaço exterior. Aproveitando uma viagem de férias de Occhialini ao Pic du Midi, nos Pirineus, convenceu-o a levar dois kits de chapas, um com bórax, outro sem, e expô-los ao intenso bombardeio de raios cósmicos existente naquela altitude. Quando revelaram as chapas, os pesquisadores ficaram boquiabertos com a quantidade de fenômenos registrados nas emulsões carregadas com bórax. Um evento os impressionou em especial. Era o traço de um méson, que diminuía a velocidade e parava, dando origem a um novo traço.

A descoberta de Lattes e Occhialini poderia solucionar o enigma se o estranho traço na emulsão resultasse da transformação de um méson em outro .
Lattes estava convencido disso. Mas os dados obtidos em Pic du Midi, a 2800 metros acima do nível do mar, eram insuficientes para corroborar essa interpretação. O pesquisador precisava de raios cósmicos ainda mais abundantes e energéticos. E descobriu um lugar onde poderia encontrá-los: uma precária estação andina, localizada em Chacaltaya, Bolívia, a 5500 metros de altitude. "Lá, o número de partículas cósmicas é 100 mil vezes maior", explicou.

Na Bolívia, num ar rarefeito e com metade da pressão atmosférica existente ao nível do mar, realizou o experimento que o imortalizou. As emulsões expostas em Chacaltaya revelaram cerca de 30 rastros de mésons duplos. Feitos os cálculos, confirmou-se a existência de dois tipos de partículas com massas diferentes: o corpúsculo secundário foi batizado como méson mi (ou míon); o corpúsculo primário, mais pesado, era algo novo e recebeu o nome de méson pi (ou píon).
Lattes tinha apenas 22 anos quando comunicou, na edição de 25 de maio de 1947 da revista inglesaNature, a descoberta de Pic du Midi. E já tinha completado seu 23º aniversário quando divulgou, em outubro de 1948, os achados de Chacaltaya.
A façanha rendeu a Cecil Frank Powell, coordenador do projeto, o Prêmio Nobel de Física de 1950. Mas foram Lattes e Occhialini os verdadeiros autores do trabalho premiado.

Aos 23 anos, foi um dos fundadores do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, no Rio de Janeiro, instituição na qual também exerceu o cargo de diretor.



Apesar de jamais ter ganho o prêmio Nobel, foi por três vezes indicado para tal honraria.
César Lates, ou, conforme sua certidão de nascimento, Cesare Mansueto Giulio Lattes, foi um indivíduo cujo conhecimento e cultura engrandeceram a raça humana.
Fique com com Deus, professor ...

Edson Cebola