262 ANOS
Edson Osni Ramos (Cebola)
Há exatamente 62anos, neste dia 19 de março, São José, SC, completava seu bicentenário de fundação.
Diferente de Florianópolis, que comemora sua data de emancipação política, São José da Terra Firme comemora a fundação do povoado, em 1750, com a chegada de 182 casais de açorianos, oriundos das Ilhas do Pico, Terceira, São Jorge, Faial, Graciosa e São Miguel. Em 1829, São José recebeu o primeiro núcleo de colonização alemã do Estado. O rápido desenvolvimento, aliado ao aumento populacional e poder econômico, fez com que em 1º de março de 1833, através da Resolução do Presidente da Província, Feliciano Nunes Pires, São José passasse de freguesia a vila. Em 3 de maio de 1856, através da lei Provincial nº 415, foi elevada à cidade.
Pois é, mas em 19 de março de 1950, um rapaz da Ponta de Baixo, oleiro por profissão, então com 22 anos, conheceu uma mocinha, então com 17 anos, nascida onde hoje é a sede do município de Alfredo Wagner. Provavelmente eles já teriam se visto quando bem crianças, pois seus pais negociavam entre si. O pai do rapaz tinha olaria de louças de barro, na Ponta de Baixo, e o pai da moça era carroceiro, transportando bens e mercadorias entre a serra catarinense e o litoral.
Ao final de uma solenidade na frente do então Theatro Adolpho Melo, eles foram apresentados.
E deles, viemos nós. Nascido na Ponta de Baixo, em casa (com a parteira Dona Diba), vim ao mundo sete anos depois.
Vivi minha infância em São José, vendo os jogos do Ipiranga, tomando água na “carioca”, vendo meu pai fazer louças de barro e minha mãe ganhando a vida como costureira.
E tenho muito orgulho dos dois!
Estudei na primeira turma do Coléginho São José, com a diretora “tia” Hermelinda Bianchini. Inicialmente o coleginho era no segundo piso de um sobrado ao lado do bar do “seo” Vino, na quadra da Igreja Matriz.
Tive uma infância um pouco complicada, família de pouquíssimos recursos financeiros e com alguns problemas de saúde: bronquite, asma e outros.
Mas foi uma infância feliz, com minhas duas irmãs, Lúcia e Dulce e, depois, com a chegada do mano Gilberto.
Estudamos muito (todos nós), trabalhamos e crescemos.
Hoje,tenho muita saudade da São José de minha infância e adolescência. De pegar siri na praia, de pescar de caniço na “cadeira” e na “lage” (essa linguagem só os manezinhos da Ponta de Baixo vão entender... rsrsrs...).
Dos domingos de futebol na Praça, com o Ipiranga jogando – Valério (meu padrinho), Telmo, Ito, Ceceu, Perácio, Mario Santos, Mario Rila, Vilson e os “jovens” Zé Jaime, Capota e tantos outros craques que vi jogar por lá.
Estava sempre nos jogos, pois meu pai era árbitro (na época, juiz de futebol);
Saudade das matinèes no “Cine Rajá”, do “seo” Arnaldo Souza, sempre sorridente e atencioso, onde trocávamos gibis antes do filme.
Saudade de brincar com os amigos, de ir a aula no coleginho, das professoras e professores inesquecíveis (Sônia Sandin, Eliete Gerlach, Ana Maria, Walter Gerlach, Marlene, dona Lígia e da “tia” Hermelinda). De queridos colegas de aula que de há muito não vejo.
Depois, na adolescência e início da juventude, dos bailes no 1º de Junho, do “Clubinho”, que marcou demais minha vida.
Até das figuras folclóricas que por lá viviam, aqueles “anjos tortos” que toda cidade do interior tem, como o “seo” Pedro Machado, que ameaça correr atrás das crianças com uma faca, quando inticávamos com ele chamando-o de Ma-ééé-co!
Como se ele fosse machucar alguém!
Do “seo” João Pretinho, na praça, sempre com um sorriso nos lábios e um “copo de cana” na mão, sem saber se era o último de ontem ou o primeiro de hoje. Tinha o Parreira, o Capitão da Banda, a Maricota e o Vão.
Nem sei se nas cidades do interior ainda existem esses folclóricos, que se praticassem algum mal alguém seria somente a eles mesmos.
Saudades da Praça, onde tinha uma palmeira com um furo no tronco (diziam que era fruto de um tiro de canhão, disparado da região da base aérea, na revolução de 1930). Tempos atrás passei por lá, para ver a palmeira, mas ela não mais existe, assim como o campo do Ipiranga e muitas outras coisas e pessoas, que o tempo levou.
Tenho saudades até de coisas como a procissão de Corpus Christi. Não do evento em si, mas de ver a decoração das ruas, onde o Plínio Verani (Júnior) desenhava verdadeiras obras de arte, que o Padre e sua comitiva pisoteavam depois (irc!).
Saudade das louças de barro, moringas, potes e alguidares.
De comprar as coisas na venda do “seo” Bejo e no bar do “seo” Pedrinho. De ver os pombeiros fazendo o som indicativo de suas passagens, soprando em um pequeno chifre de boi. Pombeiros eram os atravessadores (pobres) que compravam o peixe dos pescadores e saiam vendedo-os de casa em casa, de carrinho de mão ou de carroça.
Por falar em carroça, saudade da “carroça do padeiro”. Os padeiros vendiam os pães levando-os nas casas em pequenas charretes, com uma caixa para transportá-los. Melhor que o pão era o cheiro dos mesmos, passando por nós. É um dos cheiros de minha infância.
Saudades de uma época inesquecível, onde deixei muitas raízes.
Parabéns São José. E parabéns aos josefenses!
Mesmo sabendo que, hoje, a cidade se descaracterizou. Em nome do desenvolvimento, muitas coisas foram mudadas. A região da Praça, antigamente centro político-administrativo-social do município, hoje é chamada de centro histórico.
A característica do povo josefense, de sempre receber de braços abertos aos forasteiros, provocou alguns danos. Muitos, sem nenhuma identificação com a cidade, chegaram, cresceram e se elegeram para cargos políticos de destaque. E descaracterizaram completamente o lugar, tirando de lá os órgãos públicos e pouca coisa dando em troca.
Mas, a história é grande demais para ser alterada!
Viva São José da Terra Firme!
Fotos:
http://saojose-santacatarina.blogspot.com.br/MENEZES (Servidor público inativo, historiador e adesguiano/SC - Editor do Boletim Informativo CURUPIRA)
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