O céu dos animais
Edson Osni Ramos (Cebola)
- crônica para minha filha Beninha -
Quando a gente era pequenino, nos ensinaram que se fôssemos bons a vida toda, iríamos para o céu. Se não,...
Esse típico pensamento judaico-cristão permeou nossas vidas desde
sempre. Claro que, quando pequeno, muitas vezes fiquei com medo. Depois
de aprontar algumas (muitas), sempre rezava e pedia perdão a Deus,
“arrependido” da falta, “prometendo” não mais cair em tentação, para que, óbvio, minha conta com o Criador estivesse no “crédito”.
Depois de adulto, tantas são as coisas a pensar e fazer, que esses
conceitos são deixados de lado, felizmente, e passamos a viver
plenamente. Acho que em minha vida fiz mais coisas boas dom que ruins.
Também lembro de que no livro sagrado consta que Deus criou o céu, a
terra, o homem e a mulher, as plantas e o animais, enfim tudo o que
temos. Então, quando criança, também pensava: será que existe céu para
os animais? Certamente o cachorro do “seo” Tavico, nosso vizinho na
Ponta de Baixo, era candidato certo ao inferno, pois sempre vinha
enfezado ao meu encontro. Uma vez até me mordeu, aquele desgraçado!!!
Tudo bem que sempre que ele estava na corrente eu o atiçava,
provocando-o. Mas disso eu estava salvo, pois pedia perdão a Deus!
Muito tempo depois, com a família crescendo, apareceram, pelos filhos,
os animais domésticos. E neste quesito, coloco nossos cães e cavalos.
Sobre os cavalos, tenho uma tese: tolo de quem pensa que é dono de um
cavalo. No máximo, o cavalo é dono da gente. Tive um, o Garoto, que era
sensacional. Um matungo do qual ninguém gostava de andar, mas que comigo
virava um puro sangue inglês. Era incrível a empatia entre nós, levando
alguns provocadores a dizer que em outras vidas deveríamos ter sido
parentes próximos. Digo, sem erro, que o Garoto era meu amigo. Quando o
encilhava para uma cavalgada, ele já caminhava para um local existente
no pátio, para eu montar sem esforço algum. É que tenho um problema no
joelho, há muitos anos, que dificulta flexionar a perna, então fizemos
uma espécie de “escada natural”, onde eu subia com facilidade. Quando eu
o encilhava para outra pessoa andar, ele nem se mexia do lugar, o outro
é que “se danasse”, para montá-lo. Mas ele fazia isso sem eu dizer
nada. Como sabia? Não sei!
Um dia o Garoto se foi, em agosto de 2011
ele foi atingido por um raio, bem pertinho de casa. Morreu fulminado,
aos 20 anos, uma idade já avançada para um cavalo.
Chorei!
Tivemos ainda o Fluck e a Tuca, dois cães, “stray dogs” legítimos, que
acompanharam meus filhos crescer e ajudaram em suas formações. O Fluck
era um pastor alemão em corpo de pequinês, o que o deixava inconformado.
Tinha a cabeça e o pelo de pastor alemão, mas o corpo... ridiculamente
pequeno. Latia feroz para tudo e para todos, esquecendo seu tamanho.
Apanhou muito de outros cachorros. Mas era um amigão. Chegou aqui em
casa quando meu filho era pequeno, e eles logo se afeiçoaram. Lembro de
que um dia estavam brincando debaixo do limoeiro, quando ouvi uma
gritaria: “mordeu, mordeu, está saindo sangue!!” Saí furioso, pensando
que o Fluck havia mordido “minha criança”. Foi o inverso!... rsrsrs....
Somente fiquei brabo com ele no dia em que comeu uma das minhas
codornas, que havia escapado do viveiro. Foi um grande cão de guarda,
apesar do tamanho, que não perdoava se aparecia alguma cobra ou rato no
quintal. Matava a patadas e, depois, ficava esperando até eu chegar e
agradecer. Também se foi, e tive que autorizar a injeção para faze-lo
parar de sofrer. Com 13 para 14 anos.
Tivemos a Tuca, uma vira-lata
com olhar triste e coração gigante, com pelo de dálmata. Morou conosco
em Fpolis e em Rancho Queimado, e onde eu ia, ela estava junto. O
curioso é que em Rancho Queimado ela vivia entrando dentro de casa. Em
Fpolis, jamais entrou!
Quando íamos jogar dominó, ela ficava enrolado nos meus pés a noite toda.
Foi o animal mais carinhoso que conheci! No final, tivemos que leva-la
de volta para morar em Fpolis, pois ela estava perdendo o senso de
direção. E se perdeu várias vezes nos pastos e matos do nosso rancho”.
Um dia ficou muito doente e a levei ao veterinário. Não mais voltou, aos 17 anos.
Foi muito triste!
Agora foi a vez da Kiara, uma poodle que minha filha caçula ganhou
quando era pequenina. A amizade das duas foi um dos belos quadros de
nossa família. Sempre serelepe e saltitante, aprontou todas aqui em
casa, o que me fez jurar jamais ter outro cachorro dentro de casa.
Mas...
Ela chegou a roubar queijos da mesa, bifes do prato, etc. Mas era adorável!
Quando íamos para Rancho Queimado, ela sempre ia junto. Lá, era ela
quem mandava no pátio, embora tenhamos o Simba, que é umas dez vezes
maior e mais pesado que ela. E que tem fama de cão bravo. Ela fazia gato
e sapato do Simba e de todos nós.
Quando minha caçula viajava, ela
ficava triste, só voltando “as boas” quando do retorno. Sempre latindo e
esperando que déssemos alguma comidinha.
Pois nessa semana, ela também se foi!
E o mais triste foi vez a tristeza de minha filhinha!
Hoje, tenho a certeza de que existe uma “continuação” para nós humanos,
que algumas pessoas chamam de céu. Tenho isto em função dos amigos que
já se foram. Mas, também, credito que exista um “céu dos animais”,
porque “espíritos” tão belos não podem se perder, como uma folha seca
que cai.
Estava pensando, houve uma época em que esses quatro
“animais” estavam conosco. Brincando, brigando, saltitantes, ofegantes,
latindo, sorrindo, uivando, rosnando, correndo, galopando. Sempre nos
protegendo, dando o alarme quando da chegada de quem quer que seja.
Agora devem estar fazendo isso tudo no céu!
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