O ENEM,
OS JOGOS OLÍMPICOS
E OS NETINHOS DA VELHINHA DE TAUBATÉ
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Autor: Edson Osni Ramos (Cebola)
Na última 5ª feira, 1º de outubro, despertamos com a novidade: a prova do Enem foi cancelada, devido a vazamento de questões (fraude) ocorrido.
Para quem vive no meio acadêmico, não foi surpreendente, apenas decepcionante.
É difícil em um país como o nosso, uma prova única, com a magnitude do Enem (quatro milhões e cem mil exemplares espalhados), ser aplicada sem possibilidade de fraude?
Nosso povo, infelizmente, tem uma índole tal que são valorizados os “expertos”, os “safos”, os vigaristas e similares. Os honestos são, de forma geral, são considerados otários.
Os brasileiros, de maneira geral, são pessoas que gostam de “levar vantagem em tudo, entende!”
E não estou afirmando isso como um desabafo apenas, não estou colocando de forma aleatória ou empírica. Podemos fazer amostragens.
Nossos representantes, ou seja, aqueles que representam todos os demais habitantes do país no Congresso Nacional e em outras instâncias menos relevantes (mas não menos onerosas) simbolizam o povo.
Se observarmos as notícias oriundas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, conclui-se que no quesito honestidade muitos deixam a desejar. A quantidade de processos e condenações na justiça demonstram, de forma inequívoca, que nossos representantes padecem de certos preceitos que seriam convenientes aos que representam um povo de boa índole.
Claro que no Congresso Nacional tem muita gente honesta! Assim como grande parte da população brasileira é honesta. Porém, a maioria dos honestos é constituída por indivíduos ingênuos ou omissos. Ou as duas coisas.
São aqueles que acreditam em Papai Noel, em Saci-Pererê e nas boas intenções dos que nos governam!
Na época da ditadura militar (da última – e queira Deus que seja realmente a única!), O escritor Luiz Fernando Veríssimo criou uma personagem: a “Velhinha de Taubaté”. Era a última pessoa em nosso país que acreditava nos desmandos das autoridades e nos comunicados dos órgãos oficiais do governo. Pois pensei que a “Velhinha” tinha morrido. Talvez até tenha, mas deixou inúmeros netos.
Outra coisa inquietante: os órgãos do governo estão comunicando que a partir de agora não teremos mais vestibular, somente o Enem, onde serão cobrados de nossos alunos apenas raciocínios. Agora não mais teremos as “decorebas” e o uso de fórmulas, diz a propaganda oficial.
Então gostaria que observassem essa prova do Enem que não foi realizada (a prova fraudada, já disponibilizada para os interessados). Compare-a com as provas, por exemplo, dos últimos vestibulares da Universidade Federal de Santa Catarina.
Apenas no formato existe diferença. Os assuntos abordados e as maneiras de abordagens são idênticas. Com o uso de raciocínios e fórmulas, bem de acordo com o programa da UFSC e das matrizes de referência do Enem, capazes de cobrar competências e habilidades dos vestibulandos.
Novamente percebe-se que a diferença está apenas na retórica.
Mas, é compreensível! Enquanto em nosso país a educação de base for deixada de lado, como um subproduto ventilado apenas em tempos eleitorais, será isso mesmo. Um povo que ama pão e circo e que está sempre a espera de um Messias populista que traga algum alento.
A educação privada tem de ser uma opção, não uma necessidade!
A maioria das escolas públicas desse país vive ao deus-dará.
E, de quando em quando o governo vem com a solução final: há três anos eram as cotas que resolveriam as desigualdades sociais do país.
Agora a solução é o Enem!
Logo teremos nova prova do Enem.
A angustiante pergunta é: será que nesta prova as fraudes serão descobertas?
Mas, nem tudo está perdido.
Ontem, 6ª feira, 3 de outubro, tivemos a grande notícia: o Rio de Janeiro vai sediar os Jogos Olímpicos de 2016! Estamos no primeiro mundo: depois da Copa de 2014, as Olimpíadas de 2016!
E, novamente, os netos da Velhinha de Taubaté foram as ruas, vibrando e cantando com essa possibilidade de resolvermos todos os problemas do Rio de Janeiro, com as Olimpíadas.
Nosso presidente até chorou de emoção!
Dizem: se Barcelona se redimiu de seus pecados com as Olimpíadas de 1992, porque no Rio de Janeiro não acontecerá o mesmo?
Pois é, mas quem vai pagar a conta?
Se as despesas (declaradas) com os últimos jogos Panamericanos (Rio de Janeiro/2007) excederam em 10 vezes o planejamento orçamentário feito, com contas ainda não devidamente justificadas perante os órgãos competentes, como garantir que não ocorrerá novamente?
Principalmente sabendo que os organizadores são basicamente os mesmos?
Mas, não há de ser nada, dizem os netinhos, as Olimpíadas vão mostrar o Brasil para o mundo. E se “até” os chineses fizeram um espetáculo deslumbrante, então “nós podemos”, como diria nosso “timoneiro” de forma “bastante original”.
Mas quem vai pagar a conta?
Provavelmente alguma autoridade “experta” apresente mais um projeto no Congresso Nacional: “IMPOSTO PARA OS JOGOS OLÍMPICOS”. E ainda argumentariam: nossa população já paga tantos impostos que provavelmente nem notará mais um.
"Pois sim!", como diria meu pai.