terça-feira, 20 de julho de 2010

Tem momentos que a gente não consegue ficar quieto - 5

.
ESCOLA PÚBLICA
X
ESCOLA PRIVADA
..
Autor: Edson Osni Ramos (Cebola)
Publicado no jornal NOTÍCIAS DO DIA,
edição de 22 de julho de 2010
.
É, tem momentos que a gente não consegue ficar quieto!
É, tem momentos que a gente não consegue ficar quieto!Ontem, 19 de julho de 2010, os jornais publicaram a “classificação” das escolas em relação aos resultados obtidos por seus alunos na última edição do Exame Nacional do Ensino Médio, Enem, realizado em dezembro passado (aquele mesmo que seria realizado em outubro, mas que foi fraudado, etc.).
Pois é, o Enem, criado em 1998 durante o governo Fernando Henrique, tinha como finalidade analisar a situação do ensino médio em nosso país, avaliando as escolas em si. Era de caráter voluntário e aplicado apenas a estudantes que estavam na terceira série do ensino médio.Em 2009, o Ministério da Educação apresentou uma proposta de reformulação do Enem e sua utilização como forma de seleção unificada nos processos seletivos das universidades públicas federais. Aliás, já de alguns anos várias instituições públicas de ensino superior usavam o Enem como mecanismo de seleção, substituindo total ou parcialmente o vestibular. Com isso o Ministério da Educação passou a incentivar, inclusive com benesses financeiras, as instituições para usarem o Enem em substituição ao vestibular.
Assim, de prova avaliatória o Enem passou a ser prova classificatória.Claro que isso muda substancialmente o panorama. Aqui em Santa Catarina a importância da prova do Enem para os alunos era mínima, pois a UFSC não o usava como prova classificatória para o ingresso de seus calouros. A partir de 2009, passou a usar (valendo 20% da prova, no caso de ser vantajoso ao vestibulando que optar pelo seu uso – se a nota do Enem for inferior à obtida pelo aluno na prova do vestibular, é desconsiderado). Já a UFFS (Universidade Federal da Fronteira Sul, com sede em Chapecó) passou a usar como único mecanismo de ingresso.Isso implicou em uma mudança de postura dos alunos em relação a essa prova. Passaram a se preparar mais, a freqüentar cursos pré-vestibulares (convencionais e por disciplina isolada) visando o Enem. E agora a prova não é apenas dirigida a alunos que estão na terceira série do ensino médio, mas também a todos que já concluíram esse ciclo.E, de repente, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, Inep, volta a usar o Enem como prova avaliatória das escolas.Não tem mais sentido, muitos dos alunos que concluíram o ensino médio na escola X, preparam-se por um ou vários anos em outras instituições e são ainda catalogados como oriundos da mesma escola X.Nos jornais de hoje, 20 de julho, aparece matéria com um brilhante aluno que cursa Direito na UFSC e obteve a quarta melhor nota do Enem em Santa Catarina. Ele diz que se preparou cursando o ensino médio no Colégio Catarinense, fez um curso semi-extensivo no Curso Energia e ainda um curso particular de Redação.
Como comparar a preparação desse indivíduo com a de alunos da escola pública, que trabalham durante o dia e estudam a noite?E aparecem autoridades educacionais, pedagogos, cientistas sociais e outros letrados, expondo teorias para explicar os motivos que levam a escola pública a obter melhores resultados no processo.Falam da falta de participação da família, de disciplina no processo de ensino aprendizagem e de motivação dos professores. Claro que isso tudo é muito importante.
Mas o problema está na raiz. Como a família que tem como maior mote de existência sua sobrevivência vai participar das atividades acadêmicas. Como motivar professores mal preparados e desestimulados por salários ridículos?
Parabéns ao Colégio Militar de Florianópolis, que de acordo com a classificação divulgada foi a melhor escola pública de Santa Catarina (e 19ª na classificação geral – de públicas e privadas). Em entrevista aos meios de comunicação, seu diretor falou em disciplina rígida, em bons métodos educacionais, etc., explicando o sucesso. Certamente o trabalho que eles desenvolvem é bastante bom, porém, mais do que certamente, existe respaldo financeiro para sua realização.
E parabéns a Associação Luterana Bom Jesus, de Joinville, primeira colocada geral entre as escolas de Santa Catarina.
Mas, por que as escolas privadas sempre apresentam resultados superiores ao das escolas públicas?
Ora, enquanto os governos não investirem maciçamente em educação de base, estaremos sempre rastejando atrás de paleativos, como cotas e similares. Criando factóides para explicar ao povo a incompetência de nossos governantes.
Enquanto a escola privada em nosso país for uma necessidade e não uma opção, vai ser isso sempre!
Claro que existem escolas públicas boas, porém são exceções.Para finalizar: de quando em quando encontramos autoridades tecendo loas à escola pública e criticando a escola privada. Dizendo barbaridades de seus diretores e/ou proprietários. A eles sempre faço uma pergunta: onde estudam seus filhos?
Ah ah ah!
Advinhe!!!!

Um comentário:

PAULO COELHO - FLORIANÓPOLIS -SC disse...

Olá Cebola,
Conforme é de teu conhecimento trabalhei por 20 anos em Colégios particulares e muito próximo ao uso do dinheiro que entra e sai e realmente os administradores destas entidades as vezes se veem em verdadeiros "papos de aranha" para cumprir com os comprimissos financeiros.
Como o perído de recesso escolar é padrão para todo o Brasil, todos os professores e a maioria dos funcionários tiram férias no início do ano (antes do ano letivo), o que acaba com qualquer previsão orçamentária tendo em vista que num periodo de mais ou menos 60 dias corridos o colégio tenha que pagar algo em torno de 5 folhas de pagto e mais 1/3 de férias, justamente quando ainda está sendo formada a receita para o ano seguinte.
Na minha opinião o governo tinha é que dar algum incentivo para essa atividade tendo em vista que os empresários na maioria das vezes acabam fazendo o papel que seria por obrigação do governo, pois se o governo pudesse oferecer educação com qualidade a escola particular seria mais uma opção e não a principal opcão quando o assunto é qualidade de ensino.
Outro problema gravíssimo é a inadimplência, que por diversas normas e resoluções permite que o aluno estude com as mensalidades atrasadas podendo a escola somente processar o seu responsável financeiro. E se a Casan ou Celesc cortarem o fornecimento e àgua ou luz? Como ficam os alunos que realmente estao lá por opção?
Um abraço
Paulo Coelho