sexta-feira, 7 de março de 2008

3 ANOS SEM CESAR LATTES

No dia 8 de março completaram-se 3 anos da morte, aos 80 anos, em Campinas, São Paulo, do maior físico latino-americano de todos os tempos, o brasileiro César Lates, vitimado por uma parada cardíaca.
Cesare Mansueto Giulio Lattes nasceu em Curitiba, Paraná, em 11 de julho de 1924, era casado com Martha Siqueira Neto Lattes, pai de quatro filhas e avô de nove netos. Sua descoberta mais importante, realizada aos 22 anos, abriu caminho para a nova física de partículas, mostrando que há muito mais coisas nas entranhas do átomo do que prótons, elétrons e nêutrons.
Iniciou o curso primário em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, e concluiu o secundário no Colégio Dante Alighieri, em São Paulo. Aos 16 anos, pelas mãos do pai, encontrou-se com o físico ucraniano (naturalizado italiano) Gleb Wataghin, introdutor da física moderna no Brasil que o aconselhou a aproveitar uma portaria governamental, pular os anos que faltavam e ingressar imediatamente na então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP). Com 19 anos começou a dar aulas como professor-assistente da USP. "Nunca mais fiz curso algum. Daí para frente, o que eu aprendi, aprendi fazendo", orgulhava-se.

Destacou-se tanto na universidade que, ainda aluno, Wataghin e o italiano Giuseppe Occhialini o convidaram a participar de pesquisas teóricas e experimentais.
Em seguida, sob a orientação do grande físico brasileiro Mário Schenberg, dedicou-se a criar um modelo teórico do elétron, supondo uma partícula puntiforme dotada de momento angular. “Depois que consegui acabar, nunca mais me dediquei à física teórica. Decidi virar experimentador", dizia aos seus biógrafos.
Em 1946, apenas três anos depois de formado, partiu para a Inglaterra, para trabalhar com o físico inglês Cecil Frank Powell. Foi participar de um trabalho sobre traços produzidos por partículas subatômicas em certas chapas especiais, espessas e sensíveis, chamadas emulsões fotográficas. Pela análise dos rastros deixados por essas partículas, era possível determinar sua massa, energia e outras propriedades físicas. O trabalho se arrastava há 10 anos, sem resultados importantes. A entrada de Lattes e do italiano Occhialini fortaleceu a pesquisa. Occhialini tratou de conseguir emulsões mais densas, capazes de registrar maior número de eventos. Lattes foi encarregado de calibrar as novas emulsões e descobriu que, quando carregadas com um composto de boro, o bórax, eram capazes de reter o traço das partículas por muito mais tempo.
O jovem cientista brasileiro não se conformava com as baixas energias das partículas então produzidas em laboratório e esperava utilizar as chapas para detectar as partículas muito mais energéticas, presentes nos raios cósmicos que permanentemente chegam à Terra, vindos do espaço exterior. Aproveitando uma viagem de férias de Occhialini ao Pic du Midi, nos Pirineus, convenceu-o a levar dois kits de chapas, um com bórax, outro sem, e expô-los ao intenso bombardeio de raios cósmicos existente naquela altitude. Quando revelaram as chapas, os pesquisadores ficaram boquiabertos com a quantidade de fenômenos registrados nas emulsões carregadas com bórax. Um evento os impressionou em especial. Era o traço de um méson, que diminuía a velocidade e parava, dando origem a um novo traço.

A descoberta de Lattes e Occhialini poderia solucionar o enigma se o estranho traço na emulsão resultasse da transformação de um méson em outro .
Lattes estava convencido disso. Mas os dados obtidos em Pic du Midi, a 2800 metros acima do nível do mar, eram insuficientes para corroborar essa interpretação. O pesquisador precisava de raios cósmicos ainda mais abundantes e energéticos. E descobriu um lugar onde poderia encontrá-los: uma precária estação andina, localizada em Chacaltaya, Bolívia, a 5500 metros de altitude. "Lá, o número de partículas cósmicas é 100 mil vezes maior", explicou.

Na Bolívia, num ar rarefeito e com metade da pressão atmosférica existente ao nível do mar, realizou o experimento que o imortalizou. As emulsões expostas em Chacaltaya revelaram cerca de 30 rastros de mésons duplos. Feitos os cálculos, confirmou-se a existência de dois tipos de partículas com massas diferentes: o corpúsculo secundário foi batizado como méson mi (ou míon); o corpúsculo primário, mais pesado, era algo novo e recebeu o nome de méson pi (ou píon).
Lattes tinha apenas 22 anos quando comunicou, na edição de 25 de maio de 1947 da revista inglesaNature, a descoberta de Pic du Midi. E já tinha completado seu 23º aniversário quando divulgou, em outubro de 1948, os achados de Chacaltaya.
A façanha rendeu a Cecil Frank Powell, coordenador do projeto, o Prêmio Nobel de Física de 1950. Mas foram Lattes e Occhialini os verdadeiros autores do trabalho premiado.

Aos 23 anos, foi um dos fundadores do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, no Rio de Janeiro, instituição na qual também exerceu o cargo de diretor.



Apesar de jamais ter ganho o prêmio Nobel, foi por três vezes indicado para tal honraria.
César Lates, ou, conforme sua certidão de nascimento, Cesare Mansueto Giulio Lattes, foi um indivíduo cujo conhecimento e cultura engrandeceram a raça humana.
Fique com com Deus, professor ...

Edson Cebola

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