Cesare Mansueto Giulio Lattes nasceu em Curitiba, Paraná, em 11 de julho de 1924, era casado com Martha Siqueira Neto Lattes, pai de quatro filhas e avô de nove netos. Sua descoberta mais importante, realizada aos 22 anos, abriu caminho para a nova física de partículas, mostrando que há muito mais coisas nas entranhas do átomo do que prótons, elétrons e nêutrons.
Iniciou o curso primário em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, e concluiu o secundário no Colégio Dante Alighieri, em São Paulo. Aos 16 anos, pelas mãos do pai, encontrou-se com o físico ucraniano (naturalizado italiano) Gleb Wataghin, introdutor da física moderna no Brasil que o aconselhou a aproveitar uma portaria governamental, pular os anos que faltavam e ingressar imediatamente na então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP). Com 19 anos começou a dar aulas como professor-assistente da USP. "Nunca mais fiz curso algum. Daí para frente, o que eu aprendi, aprendi fazendo", orgulhava-se.
Destacou-se tanto na universidade que, ainda aluno, Wataghin e o italiano Giuseppe Occhialini o convidaram a participar de pesquisas teóricas e experimentais.
Em seguida, sob a orientação do grande físico brasileiro Mário Schenberg, dedicou-se a criar um modelo teórico do elétron, supondo uma partícula puntiforme dotada de momento angular. “Depois que consegui acabar, nunca mais me dediquei à física teórica. Decidi virar experimentador", dizia aos seus biógrafos.
Em 1946, apenas três anos depois de formado, partiu para a Inglaterra, para trabalhar com o físico inglês Cecil Frank Powell. Foi participar de um trabalho sobre traços produzidos por partículas subatômicas em certas chapas especiais, espessas e sensíveis, chamadas emulsões fotográficas. Pela análise dos rastros deixados por essas partículas, era possível determinar sua massa, energia e outras propriedades físicas. O trabalho se arrastava há 10 anos, sem resultados importantes. A entrada de Lattes e do italiano Occhialini fortaleceu a pesquisa. Occhialini tratou de conseguir emulsões mais densas, capazes de registrar maior número de eventos. Lattes foi encarregado de calibrar as novas emulsões e descobriu que, quando carregadas com um composto de boro, o bórax, eram capazes de reter o traço das partículas por muito mais tempo.
O jovem cientista brasileiro não se conformava com as baixas energias das partículas então produzidas em laboratório e esperava utilizar as chapas para detectar as partículas muito mais energéticas, presentes nos raios cósmicos que permanentemente chegam à Terra, vindos do espaço exterior. Aproveitando uma viagem de férias de Occhialini ao Pic du Midi, nos Pirineus, convenceu-o a levar dois kits de chapas, um com bórax, outro sem, e expô-los ao intenso bombardeio de raios cósmicos existente naquela altitude. Quando revelaram as chapas, os pesquisadores ficaram boquiabertos com a quantidade de fenômenos registrados nas emulsões carregadas com bórax. Um evento os impressionou em especial. Era o traço de um méson, que diminuía a velocidade e parava, dando origem a um novo traço.
A descoberta de Lattes e Occhialini poderia solucionar o enigma se o estranho traço na emulsão resultasse da transformação de um méson em outro .
Lattes estava convencido disso. Mas os dados obtidos em Pic du Midi, a 2800 metros acima do nível do mar, eram insuficientes para corroborar essa interpretação. O pesquisador precisava de raios cósmicos ainda mais abundantes e energéticos. E descobriu um lugar onde poderia encontrá-los: uma precária estação andina, localizada em Chacaltaya, Bolívia, a 5500 metros de altitude. "Lá, o número de partículas cósmicas é 100 mil vezes maior", explicou.
Na Bolívia, num ar rarefeito e com metade da pressão atmosférica existente ao nível do mar, realizou o experimento que o imortalizou. As emulsões expostas em Chacaltaya revelaram cerca de 30 rastros de mésons duplos. Feitos os cálculos, confirmou-se a existência de dois tipos de partículas com massas diferentes: o corpúsculo secundário foi batizado como méson mi (ou míon); o corpúsculo primário, mais pesado, era algo novo e recebeu o nome de méson pi (ou píon).
Lattes tinha apenas 22 anos quando comunicou, na edição de 25 de maio de 1947 da revista inglesaNature, a descoberta de Pic du Midi. E já tinha completado seu 23º aniversário quando divulgou, em outubro de 1948, os achados de Chacaltaya.
A façanha rendeu a Cecil Frank Powell, coordenador do projeto, o Prêmio Nobel de Física de 1950. Mas foram Lattes e Occhialini os verdadeiros autores do trabalho premiado.
Aos 23 anos, foi um dos fundadores do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, no Rio de Janeiro, instituição na qual também exerceu o cargo de diretor.
Apesar de jamais ter ganho o prêmio Nobel, foi por três vezes indicado para tal honraria.
César Lates, ou, conforme sua certidão de nascimento, Cesare Mansueto Giulio Lattes, foi um indivíduo cujo conhecimento e cultura engrandeceram a raça humana.
Fique com com Deus, professor ...
Edson Cebola
César Lates, ou, conforme sua certidão de nascimento, Cesare Mansueto Giulio Lattes, foi um indivíduo cujo conhecimento e cultura engrandeceram a raça humana.
Fique com com Deus, professor ...
Edson Cebola
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