terça-feira, 8 de janeiro de 2008

ACIDENTE DA TRANSBRASIL

O sábado, 12 de abril de 1980, foi um dia nublado que se transformou em uma noite chuvosa. Estávamos em Pinheiral, município de Major Gercino, na casa que o Colégio Catarinense lá mantém até hoje, com um grupo de alunos do ensino médio do referido colégio.
Naquela época, em Pinheiral não havia telefone. Também não tínhamos aparelho de televisão na casa, assim, realmente estávamos em “outro mundo”, participando de uma atividade pedagógica muito especial.

À noite, após atividades apenas dentro de casa, pois não havia ginásio de esportes nem outro ambiente que permitisse atividades com aproximadamente 40 alunos fora da mesma, fizemos a nossa “reunião da noite” e ficamos conversando. Brincando, cantando, tocando violão. Éramos senhores de nosso tempo.

Na ocasião, eu era o coordenador da atividade, como professor do Colégio Catarinense. Tinha recém completado 23 anos. Conosco estava um ser maravilhoso, o amigo Padre Guido Sthäl, jesuíta, na época com quase 50 anos. Os alunos e alunas tinham idades entre 14 anos e 19 anos, portanto éramos um grupo bastante jovem, com a presença de vários adolescentes.
No dia seguinte, domingo, pela manhã tivemos uma das atividades mais esperadas pelos alunos: uma partida de futebol contra o time de moradores de Pinheiral. Durante o jogo começaram alguns cochichos, com pessoas de Pinheiral falando que tinha acontecido um acidente em Florianópolis. Ao tentar inteirar-me do ocorrido, descobri que alguns dos sobre-nomes das pessoas acidentadas eram de alunos que lá estavam.

Fogo na mata indicava o local da queda do aviãoE agora?
Na volta, todos já sabiam que um avião tinha caído em nossa capital, mas não imaginávamos a tragédia ocorrida. Apenas ao chegarmos ao colégio, em torno das 19 horas, é que descobrimos a intensidade do acontecido.

Na noite anterior, sábado, 12 de abril de 1980, um avião da Transbrasil, cujo vôo tinha começado em Belém e depois veio fazendo escalas em muitas outras capitais, com cinqüenta passageiros e oito tripulantes, havia colidido com o “Morro da Virgínia”, em Ratones, no interior da Ilha.
Segundo consta, o avião havia sobrevoado o aeroporto, preparando-se para aterrissar, quando foi solicitado que fizesse mais uma volta e aterrissasse após alguns minutos.
Trágicos minutos!

Como era uma noite de sábado, muitos parentes e amigos tinham ido ao aeroporto esperar os que vinham naquele vôo. Assim, quando o avião foi fazer mais uma volta e não retornou, o desespero foi grande.

Dois minutos antes da queda o comandante da aeronave entrou em contato com a torre do aeroporto, e nenhuma informação sobre condições ruins da aeronave foram passadas. Supõe-se que, no instante da colisão, o avião estivesse com velocidade de 600 km/h. Se sua altura fosse 80 metros mais do que era, certamente teria passado sobre o morro e nada teria ocorrido.
Alguns instantes após a torre perder o contato, via radar, com a aeronave, o Comando de Busca Salvamento da Base Aérea de Florianópolis foi acionado. Um helicóptero foi enviado para a região e logo localizou o clarão na mata no alto do morro, indicando que acontecera o pior.

Mas, quando algumas horas depois as equipes de salvamento chegaram ao local, mesmo os mais pessimistas se surpreenderam com a tragédia.

Apenas quatro pessoas sobreviveram ao acidente. E uma delas veio a falecer, dias depois, no Rio de Janeiro. Noventa por cento dos passageiros do vôo eram de Florianópolis. Ou era aqui seu destino, naquela noite.

Um pedaço do avião – apenas na manhã seguinte foi possível ver a dimensão da tragédia.Quando a lista de passageiros foi divulgada é que se dimensionou a tragédia.
Médicos, engenheiros, advogados, professores, líderes sindicais, juízes, comerciantes e pessoas da sociedade constavam da relação.

Muitas pessoas tentaram subir o morro para prestar ajuda, para levar cobertores para os sobreviventes, que se esperava fossem vários. Parentes desesperados, amigos e curiosos, enfrentaram a noite e o lamaçal, mas apenas uns poucos chegaram ao local do acidente, onde encontraram vivos o casal Cleber e Marlene Moreira, que não eram de Florianópolis e que perderam o filho no acidente, Flávio Barreto e a médica Denise Moritz Pereira, que morreu dias depois.

Domingo: a cidade enterrando seus mortosOs outros se foram. Quando, no domingo, os corpos identificados (a maioria dos corpos estava carbonizada e muito mutilados) começou a sair do instituto médico legal para o sepultamento, a cidade parou. E chorou!
Nós, professores, perdemos vários colegas, como o professor de Matemática da UFSC, Walter Castelan, e o colega Rômulo Coutinho de Azevedo, médico e Professor de História (e que professor!) do Curso Barriga Verde – pré-vestibular.

De quando em quando me pergunto: e se o avião estivesse 80 metros mais alto? E se o acidente não tivesse ocorrido?

Até hoje muitas histórias desse acidente não foram explicadas. Foi falha humana realmente? Dizem que não era o comandante que estava pilotando aeronave. Será?!

Tem ainda a história de uma maleta com jóias, que um joalheiro aqui estabelecido trazia de São Paulo, que depois sumiu. Ela foi achada?

Mas isso não importa nada para quem perdeu algum ente querido naquele acidente.

Autor: Edson Osni Ramos (Cebola)
Fonte: O Estado, edição de 14 de abril de 1980

10 comentários:

Unknown disse...

olá...
sou Cléber Abip Moreira Filho,
hoje tenho 27 anos, nasci em maio de 1981 e sou filho de cléber e Marlene moreira.
Diziam os médicos q a gestação era impossível, mas ainda tenho uma irmã caçula.
E prestando atenção no seu comentário, tambem me pergunto:
Se aquele avião estivesse 80 metros mais alto, eu estaria aqui hoje???
Tenho 4 filhas e meus pais embora separados, ainda vivem.
ela em floripa ele em bagé,rs.
na verdade só postei porque se não fosse a desgraça de tantos eu não teria nem nascido e ao mesmo tempo que me sinto culpado sinto tambem que era a minha história começando e infelismente a de tanta gente boa e ruim terminando...

Alicinha disse...

fiquei feliz quando vi a postagem do Cléber, pois a pouco tempo conversei com o Sr. Flávio Barreto, um dos sobreviventes, e ele me disse que apenas ele e uma moça que morava em camboriú tinham sobrevivido, inclusive ele me contou que estava sentado na cadeira do avião entre o Políbio e Ptolomeu Bittencourt, que eram sócios dele e que alguém parece havia escrito um livro sobre o acidente, e ele foi procurado para dar depoimento, para saber de que ele lembrava e que essa senhora de Camboriú não quis falar porque sofria muito ainda. Ou seja se voltar a encontrá-lo ele ficará contente de saber do Cléber e de seus pais. Quanto ao Cléber não acho que ele deva de forma alguma se sentir culpadoe sim uma pessoa que teve a chance de viver por duas vezes, ao ser concebido e por conseguir nascer, voce Cléber tem a obrigação de viver da maneira melhor e mais feliz possível. Nós que somos de Florianópolis, todos perdemos várias pessoas queridas, porque os que aqui nasceram, a cidade era menor então todos se conhecem e muitos de perto ou de longe possuem algum grau de parentesco ou amizade. Essa história que o professor Cebola contou, eu era uma das que estavam em pinheiral na época cursava o primeiro ano do científico e tinha 15 anos e foi realmente muito triste a nossa chegada pois o Djalma havia perdido o ai e o tio e o Jean Carlo o tio dele que era pai de uma amiga minha também.

MR LEIDE disse...

Ola boa tarde esta lendo sobre acidente aéreas fiz algumas pesquisas sobre esse em especial. Enderecei-me pelos os 3 sobrevivente .Então encontrei essa noticia datada de 2000;
“ Passados 20 anos, queda de
avião ainda guarda mistério
Noite de sábado de 12 de abril de 1980 ficou na memória pelo acidente aéreo mais grave de SC
Silvia Pinter
=======================
Nela a pessoa escreveu ,’
Sobrevivente não gosta
de relembrar a história
“”O único passageiro do Boeing 727 ainda vivo é o consultor jurídico Flávio Goulart Barreto, 53 anos. Os outros dois sobreviventes (um casal) morreram anos depois. Barreto não concede entrevista e nem gosta de falar sobre o assunto. Ele mora na Ilha de Santa Catarina e continua viajando de avião quando precisa. Duas semanas depois do acidente, já estava a bordo de uma aeronave..........””parte da noticia
o resto se encontra aqui
" http://www1.an.com.br/2000/abr/09/0ger.htm
Como li o relato de Cléber Abip Moreira Filhoo filho do casal, Cleber Moreira e Marlene Moreira vi que o mesmo não procede , já q os pais dele estão vivos.
Obrigado

pedrabranca disse...

No dia do acidente eu com alguns amigos estivemos muito próximos ao local. Eu era o mais novo, com 14 anos. Muitas pessoas ficaram perdidas no mato até o amanhecer. Lembro-me bem que um morador local, primeiro a chegar ao local do acidente, estava com os bombeiros ao pé do morro aguardando a chegada de maior número de profissionais da corporação, ter afirmado que tinham muita pessoa vivas no entorno do local do acidente. Ele mesmo havia arrastado algumas pessoas para mais longe do local do avião e retornado para buscar ajuda. Porém, despreparados nos perdemos na mata e nunca chegamos ao local da queda, como muitos outros. Estivemos muito próximo a aeronave. Conseguíamos escutar o barulho das chamas. Um helicóptero tentou nos auxiliar, pois estávamos perdidos e sem visão pela falta de lanternas. Alguns policiais civis iam à frente, porém, sem qualquer preparo para tal missão. Pelo rádio de comunicação solicitaram ajuda dos pilotos, sem sucesso. Durante as longas horas noturnas vários grupos de pessoas perdidas foram se encontrando e grupo ficou bem grande. Caminhávamos em fila indiana, um se apoiando nas costas dos outros, tendo em vista a escuridão da noite. Lembro-me até de uma repórter que quebrou a perna. Ao amanhecer cansados e com fome, nosso grupo se desgarrou do grupo maior. Como erramos moleques e costumávamos brincar nas matas, identificamos uma vegetação conhecida como vassourão e abrimos uma clareira na mata, pois a repórter vinha carregada por algumas pessoas utilizando a picada que abrimos na mata, para que os militares nos helicópteros pudessem nos avistar e resgatar a reporte. Ao certo a providência divina não permitiu que a ajuda chegasse ao local do acidente.

Gabriel Vieira Ferrari, Florianópolis

Unknown disse...

\pois é.. lendo tudo isso, fiquei com vontade de escrever.. hj tenho 33 anos e lembro-me como hj de meu pai chorando recebendo a notícia que seu filho mais velho tinha falecido...hj Rômulo teria 60 anos.. e acredito que muita coisa seria diferente em nossas vidas...

Unknown disse...

Olá, meu nome é Janete, sou moradora de Ratones,e estive no local do acidente com meu pai e seu Cyriaco. na época tinha 7 anos e me lembro como se fosse hoje.
impossivel de esquecer mesmo porque meu sitio fica de frente para o local onde aconteceu a tragédia.

Edson Osni Ramos (Cebola) disse...

Gostaria, se possível, de entrar em contato com Cléber Moreira Filho e Yara Carioni, a respeito de comentários por eles aqui postados.
Amigos, se possível, entrem em contato comigo, Edson Osni Ramos (Cebola), pelo e-mail cebola@pascal.com.br.
Grato.

Edson Osni Ramos (Cebola) disse...

Dia desses (21-07-2010)fiquei muito feliz em receber e-mail do Sr. Cleber Apib Moreira, um dos sobreviventes do "acidente da Transbrasil". Ele não reside em Fpolis, mas visita regularmente a cidade, onde moram seus filhos. Creio que é um indivíduo "bem resolvido".
Entre o que comentou sobre o acidente, segue o texto a seguir:

".... UM DOS OBJETIVOS DESTE EMAIL É TENTAR AUXILIAR A FILHA DE UM DOS PASSAGEIROS QUE, SEGUNDO INFORMAÇÕES DELA MESMA, ATÉ A PRESENTE DATA, NÃO OBTEVE A LIBERAÇÃO DAS JÓIAS QUE PERTENCIAM A JOALHERIA DO SEU PAI.
HÁ ALGUNS ANOS MANTIVEMOS UM BREVE CONTATO, VIA EMAIL, PORÉM PERDI SEU ENDEREÇO.
SE, PORVENTURA, VOCE POSSUIR QUALQUER INFORMAÇÃO REFERENTE A ESSA SENHORA, POR FAVOR GOSTARIA DE SER INFORMADO.
CLEBER MOREIRA"

Se a senhora a qual ele se refere estiver interessada, por favor entre em contato para obter o endereço do Sr. Cleber.
Abraço a todos

Edson Osni Ramos (Cebola)

PC disse...

Eu não estava no acidente. Mas lembro de estar na minha casa de paia no norte da ilha ao lado do meu avô e ele comentar, "cruzes, esse avião está baixo demais..." Uma hora depois, meu tio que vinha do centro para a nossa casa falou que alguma coisa muito estranha tinha ocorrido porque quando ele vinha descendo o morro do cemitério Jardim da paz, sentiu um cehiro forte de queimado, desculpem o que vou dizer, mas ele falou que parecia um cheiro de vômito queimado e que além da chuva, parecia que tinha um pouco de foligem no para brisa do carro...
Outra coisa, esse avião caiu num morro que ficava dentro de uma propriedadede uma pessoa bastante conhecida minha na época. O caseiro dessa pessoa viu o avião passar baixo e colidir com o morro. Ele foi o primeiro a chegar e ficou traumatizado com o que viu pelo resto da vida.
Alguns colegas meus do colégio, perderam os pais nessa tragédia.
Sem dúvida, o pior acidente aério ocorrido em Florianópolis.
Paulo Cesar Daux Filho

Framene disse...

Boa noite.

Meu nome é Francisco Menezes. Sou de Fortaleza e, trabalhei na Transbrasil no período de 1979 a 1986 como despachante técnico. Infelizmente fiz parte da equipe que atendeu o 303. Lembro-me da alegria da tripulação ao se despedir de nós, dizendo "até a próxima vez". Eu soube do ocorrido somente no outro dia, quando cheguei para um novo expediente. Um colega, também despachante, me disse: - "Menezes, o Sierra caiu! A princípio, não acreditei, pensei que ele estava brincando. Não fui chamado para depor, por que atendi o trecho Fortaleza/São Paulo; porém, o meu relatório, com a minha letra e assinatura, deve ter se queimado, pois os relatórios vão até o fim da viagem, no caso, até Porto Alegre.